quarta-feira, 12 de março de 2014

Discografia Comentada: Mr. Big

No final dos anos 80 surgiram algumas bandas de hard rock que, combinando músicos que já contavam com um significativo status, seja entre o público ou no próprio meio artístico, foram rotuladas por muitos como supergrupos ou projetos. Entre eles estavam nomes como Blue Murder, Badlands, Damn Yankees e Bad English. Apesar da grande expectativa do público e do sucesso inicial, incluindo alguns hits, nenhum deles passou do segundo álbum, dissolvendo-se em pouco tempo. Exceção a essa realidade foi o Mr. Big, quarteto formado em 1988, em Los Angeles (EUA). Unindo o guitarrista Paul Gilbert (Racer X), o baixista Billy Sheehan (Talas, David Lee Roth) e o baterista Pat Torpey (Impellitteri, Robert Plant), além do vocalista Eric Martin, que, apesar de não ser tão popular em todo o país, era dono de um grande prestígio no estado da Califórnia, o Mr. Big conseguiu conciliar sucesso e longevidade, e, apesar de um hiato ocorrido entre 2002 e 2009, continua na ativa desde então. Contando inicialmente com uma boa recepção, especialmente no Japão, país onde seus integrantes até hoje são superestrelas, o Mr. Big chegou a colocar uma música no topo da parada de singles da Billboard, a balada acústica “To Be With You”. A combinação da sensibilidade pop com a alta proeficiência dos músicos em seus instrumentos atraiu uma grande quantidade de fãs, e, não à toa, os ingressos para os shows no Brasil, um realizado ontem (9) e outro a acontecer hoje (10), no qual estarei presente, esgotaram-se com antecedência. Aproveitando a passagem do grupo por nosso país, publicamos hoje essa discografia comentada. Apreciem! Mr. Big [1989] Quem já conhecia o trabalho de Paul Gilbert no metálico Racer X, onde havia estabelecido uma reputação como um guitarrista altamente técnico, e de Billy Sheehan na banda de David Lee Roth (ex-Van Halen), não se admirou ao se deparar com a absurda introdução de “Addicted To That Rush“, em um crescendo unindo baixo, guitarra e bateria de maneira extremamente técnica e energética. Para fazer frente a uma massa sonora tão sólida, somente um vocalista muito especial, e Eric Martin realiza aqui esse trabalho com sobras, apresentando sua ótima voz que, apesar de legitimamente moldada para o hard rock, demonstra uma pureza quase virginal tal qual Steve Perry (Journey), assim como influências de cantores de soul music. Apesar da faixa citada ser o maior destaque do álbum, outras canções mantém o nível de empolgação no alto, como as sólidas “Wind Me Up”, “Take A Walk” e a grooveada “Merciless”. As primeiras power ballads do grupo dão as caras em Mr. Big, destacando a ótima “Anything For You“, suscitando o amor de alguns e o ódio de outros pelas interpretações oferecidas por Eric Martin nesse tipo de música. A setentista “Blame It On My Youth“ e a legitimamente pop metal “How Can You Do What You Do” também são dignas de menção, além do cover para “30 Days In The Hole”, do Humble Pie. Para muitos, trata-se do melhor registro do quarteto, mas que, na minha opinião, seria suplantado pelo seguinte. Lean Into It [1991] Se em seu primeiro disco, o Mr. Big já deixou claro que não permitiria que sua elevada técnica superasse a criação de boas canções, no segundo a banda confirmou e aperfeiçoou esse compromisso. Seguindo a mesma linha de “Addicted To That Rush”, “Daddy, Brother, Lover, Little Boy“ introduz os trabalhos com um hard rock metalizado exalando energia pelos poros e apresentando solos de guitarra e baixo absolutamente insanos, incluindo o uso de furadeiras elétricas para tocar os instrumentos. “Alive And Kickin’” e “My Kinda Woman” injetam um bem vindo tempero setentista, enquanto “A Little Too Loose” é pura malandragem, incluindo um pequeno trecho na voz grave de Billy Sheehan. As power ballads, que se tornariam uma das marcas registradas do grupo, aparecem com força através das ótimas “CDFF-Lucky This Time” e da bem sucedida “Just Take My Heart (16ª posição na Billboard). Mais bem sucedida ainda foi a acústica “To Be With You“, que, com suas presentes harmonias vocais, escalou o cume das paradas de singles de diversos países, incluindo sua terra natal. “Road To Ruin“ tem cara de sucesso, mas infelizmente não foi lançada como single. Outra que merecia um reconhecimento maior é “Green-Tinted Sixties Mind“, forte candidata ao trono de melhor composição do Mr. Big. Com um acento psicodélico e um refrão explicitamente pop, além de uma excelente introdução executada por Gilbert usando a técnica de tapping, a canção é não menos que viciante. A banda ainda conseguiria criar ótimos álbuns posteriormente, mas nenhum tão equilibrado e de tanta qualidade quanto Lean Into It. Bump Ahead [1993] Seguindo a tradição dos anteriores, Bump Ahead é aberto com uma faixa rápida e extremamente técnica, ressaltando as raízes heavy metal de Paul Gilbert e Billy Sheehan, na forma de “Colorado Bulldog“. A velocidade é quebrada em seguida com o groove pesado de “Price You Gotta Pay“ e com a primeira power ballad do álbum, a delicada “Promise Her The Moon”, uma de minhas favoritas do grupo. Se em Lean Into It o sucesso foi conquistado através da acústica “To Be With You”, em Bump Ahead parece que o grupo tentou emular à força o mesmo êxito, registrando um cover para “Wild World”, original do cantor Cat Stevens, que repercutiu suficientemente bem, inclusive no Brasil, mas não reproduziu a histeria causada pela antecessora. “The Whole World’s Gonna Know“, dotada de um tom mais sério que o habitual, revela-se uma canção mid-tempo pesada, destacando-se facilmente como um dos pontos altos da carreira da banda. Fator que pode agradar muitos e ao mesmo tempo irritar tantos outros é a quantidade de baladas presentes no álbum, tipo de faixa que ainda se faz presente em “Nothing But Love” e “Ain’t Seen Love Like That”, particularmente de meu agrado. O disco é encerrado com outro cover, a canção que emprestou o nome ao quarteto, a fantástica “Mr. Big”, original do Free. Mesmo não tão boa quanto a original (tarefa praticamente impossível), o grupo passa longe de fazer feio. Hey Man [1996] Menos metálico e investindo mais nos grooves, Hey Man chegou em uma época na qual o Mr. Big já havia perdido totalmente a relevância em um Estados Unidos onde o hard rock havia sido varrido para os mais mofados porões do underground. No entanto, o álbum chegou ao topo da parada japonesa, consolidando o estranho paradoxo que a banda se tornou. Musicalmente, o disco dá os primeiros sinais de cansaço do quarteto, que, apesar de ainda oferecer bons hard rocks carregados de vitalidade, como “Trapped In Toyland“, “Where Do I Fit In?”, “Out Of The Underground” e “Fool Us Today”, já não soa tão inspirado quanto nos anteriores. Assim como o anterior, Hey Man carrega nas baladas, oferecendo a acústica “Goin’ Where The Wind Blows”, e as boas “The Chain” e “If That’s What It Takes”, além da setentista “Mama D.“, dotada de bons riffs de Gilbert. Um grande destaque do disco é “Take Cover“ e sua belíssima linha de bateria, ressaltando o trabalho de Pat Torpey, que mesmo tocando com Paul e Billy, tidos entre os melhores em seus instrumentos, nunca se intimidou, demonstrando solidez e criatividade. Paul Gilbert acabou deixando o grupo em 1997 a fim de seguir carreira solo e reformar o Racer X, mas não antes de registrar quatro novas faixas ao lado do grupo para uma coletânea, incluindo uma contando com sua performance vocal, “Unnatural”. Get Over It [1999] Lançado em 1999 no Japão e em 2000 nos Estados Unidos, Get Over It apresentou Richie Kotzen como o novo guitarrista do grupo. Apesar de também ser dono de elevada técnica, tendo inclusive registrado álbuns na linha shredder, Richie trouxe uma nova paleta de cores para o trio remanescente, incluindo uma queda para o blues e o funk que foi explorada com propriedade nesse disco, atenuando ainda mais as tendências heavy metal do Mr. Big e ressaltando a exploração de bons grooves, em músicas mais ricas em swing. “Electrified“ abre em bom nível, trazendo um solo de baixo e deixando bem clara a diferença de Richie para Paul, sem ser melhor nem pior, apenas distinto. Candidata à melhor do disco, a blueseira “Static“ traz uma sólida linha de bateria e mostra que a inclusão do novo guitarrista também acrescentou qualidade vocal à banda, visto que Kotzen também é um bom cantor, não somente nos backings. “Superfantastic” e “My New Religion” são as baladas acústicas da vez, sendo a primeira o hit da época, e trazem um tom de familiaridade, enquanto músicas como a pop “A Rose Alone” e as funkeadas “Hole In The Sun” e “How Does It Feel” diferem consideravelmente de tudo que o grupo havia registrado anteriormente, e exibem um Pat Torpey mais solto e relaxado. Aliás, é preciso destacar também sua excelente introdução em “Dancin’ With My Devils“, uma das melhores canções da fase Kotzen no Mr. Big. Alguns desaprovaram sua adição, sentindo falta da marcante presença de Paul Gilbert, mas considero a renovação muito bem vinda. Actual Size [2001] Se existe um álbum que me faz questionar a superioridade de Lean Into It sobre os outros, esse é Actual Size. Apesar de, por um lado, manter algumas faixas mais funkeadas (especialmente a ótima “Suffocation“) e infectadas de blues, o segundo e derradeiro disco com Richie Kotzen adota um direcionamento mais pop rock e cheio de melodias memoráveis em diversos momentos, como em “Shine“, um dos maiores sucessos do grupo no Oriente e hoje em dia presença obrigatória nas apresentações solo de Kotzen, autor da faixa. Causou estranhamento o fato de que, exceto na alegre “How Did I Give Myself Away”, os integrantes do Mr. Big compuseram em separado (junto a parceiros externos à banda), e Billy Sheehan, que iniciou a banda em 1988, ocupado com outros projetos, apenas contribuiu na supracitada, talvez em um prenúncio da dissolução do grupo, que ocorreria em 2002, repercutindo desentendimentos entre Eric Martin e o baixista. Felizmente, no decorrer das faixas a situação foi de total harmonia, destacando a otimista “Wake Up”, a deliciosamente pop “Lost In America“ e a hardeira “Crawl Over Me”. O espaço das habituais baladas é ocupado por “Arrow”, “I Don’t Want To Be Happy e “Nothing Like It In The World”, todas na medida para satisfazer quem aprecia esse tipo de canção. Billy, que após a gravação do disco foi demitido pelos outros integrantes, acabou retornando sob pressão empresarial, mas concordando apenas em realizar a turnê de despedida, decretando o (até então) fim das atividades do Mr. Big. What If… [2010] Sete anos após o término do grupo, em 2009 o Mr. Big colocou suas diferenças de lado e voltou à ativa, trazendo de quebra o retorno de Paul Gilbert e sua timbragem característica. O disco inicia em alto estilo com “Undertow“, que, remetendo a “Take Cover” (de Hey Man), é dona de um instrumental que passa a ideia de constante evolução, além de contar com um belo refrão. A presença de Paul certamente traz uma conexão mais forte com o passado do quarteto, mas isso não significa que se trate de um disco datado, ao contrário. Apesar de “American Beauty”, “Still Ain’t Enough For Me” e “Around The World” trazerem as pirotecnias instrumentais típicas de algumas canções dos primórdios, faixas como a pesada “Nobody Left To Blame“, “Once Upon A Time” e “I Won’t Get In My Way” soam bastante atuais. Uma viagem ao passado é “Kill Me With A Kiss”, que conta com riffs que poderiam ter sido criados por Ritchie Blackmore em seus anos de Deep Purple. As duas baladas, a power ballad “Stranger In My Life“ e a acústica “All The Way Up”, cumprem bem seu papel, especialmente a primeira, uma das melhores canções do álbum. Particularmente, apesar de ter gostado de What If…, acredito que o Mr. Big ficou devendo em relação aos dois antecessores, mas tenho consciência de que essa opinião não é compartilhada pela maioria dos fãs do grupo, que viram com muito bons olhos o retorno de Paul Gilbert.

Discografia Comentada: Anekdoten

As origens do Anekdoten remetem a 1990, quando três garotos suecos decidiram se juntar e montar uma banda de covers, tocando principalmente músicas do King Crimson. Chamada de “King Edward”, o grupo tinha Nicklas Berg nas guitarras e mellotron, Jan Erik Liljeström no baixo e na voz, e Peter Nordin na bateria e percussão. Com a chegada, em agosto de 1991, da bela Anna Sofi Dahlberg, para tocar mellotron e violoncelo, o grupo intensificou a composição de músicas próprias, e esta mudança “pediu” um novo nome para o quarteto, sendo escolhido então “Anekdoten” (“anedota”, em sueco). Com o lançamento do primeiro disco, em 1993, o grupo tornou-se um dos principais nomes do rock progressivo do final do século XX, mantendo o status com os discos posteriores. Conheça agora a nada hilária, porém excelente, obra desta pouco conhecida anedota. Vemod [1993] Vemod (‘melancolia’ em sueco) é uma obra prima. Para mim, é o melhor disco de rock progressivo lançado nos últimos vinte e oito anos (ou seja, desde Script For A Jester’s Tear, do Marillion). A sonoridade do grupo em sua estreia é totalmente baseada na “trilogia elétrica” do King Crimson (que compreende os discos Lark’s Tongues In Aspic, Starless And Bible Black e Red), porém sem soar como uma mera cópia destes, podendo ser considerado como se fosse a sequência não gravada de Red. “Karelia”, “The Old Man & The Sea” e “Where Solitude Remains”, a trinca que abre o disco, já serviriam para elevá-lo ao patamar de clássico, mas ainda há mais. Se “Thoughts In Absence” soa como uma prima-irmã de “Book Of Saturday” (do Rei Escarlate), “The Flow” flerta com o “Rock In Opposition”, estilo do qual o King Crimson nunca se aproximou, mas que também rendeu belos frutos ao progressivo mundial. A única canção que foge do “contexto” é a última, “Wheel”, que parece uma sobra de estúdio de “Lizard” ou de “Island”, discos da fase anterior da maior influência do Anekdoten, o que não é nenhum problema. Se há algo a se reclamar (além da curta duração, pouco menos de 47 minutos), é do vocal de Jan Erik, com um forte sotaque que denuncia que o inglês não é a língua mãe do quarteto. Mas isso é apenas um detalhe menor em um álbum obrigatório a qualquer fã de rock progressivo, seja de qual vertente for. Nucleus [1995] Neste segundo disco, temos como diferencial a estreia de Nicklas Berg nos vocais (com o sobrenome curiosamente grafado como Barker no encarte), dividindo o posto com Jan Erik na pesada faixa-título, ou assumindo de vez o vocal principal, como em “Harvest”. Outra mudança que chama a atenção é a reduzida presença do violoncelo de Anna Sofi, que só aparece na melancólica “Here”, na esquizofrênica “This Far From The Sky” e na calma “In Freedom”, que traz novamente Jan Erik e Anna dividindo os vocais, assim como “Wheel”, do disco anterior. Já a instrumental “Rubankh” mistura com maestria o lado “King Crimson” com a faceta mais melódica do som do Anekdoten. Nucleus não traz uma grande mudança no estilo da banda, mas mesmo assim percebe-se um afastamento daquela sensação de “cópia do King Crimson” que Vemod transmite, com o grupo procurando um som próprio, distinto daquele executado por sua maior influência. Ainda não foi desta vez, mas nem por isso o quarteto deixou de acertar no alvo mais uma vez. From Within [1999] O terceiro registro de estúdio (lançado após um EP ao vivo, originalmente intitulado Live EP, de 1997) é um disco com um tom mais melancólico que os anteriores, afastando de vez a sombra do King Crimson do som da banda. A guitarra de Niklas não se destaca tanto, perdendo espaço para o mellotron, que domina a maioria das composições e causa uma sensação mais de tristeza do que de euforia à sonoridade geral, como comprovam a faixa-título, “Groundbound” e a instrumental “The Sun Absolute”. “Kiss Of Life” e “Slow Fire” são um pouco mais agitadas, mas ainda mantém o clima “depressivo” do álbum, que se encerra com a balada acústica “For Someone” (com Niklas ao violão). Particularmente, considero este o disco mais fraco do Anekdoten, mas mesmo assim, é melhor que muita coisa lançada sob o rótulo de progressivo até aqui neste século XXI. Gravity [2003] Foi com este disco que os suecos finalmente encontraram uma sonoridade característica. A melancolia que dominava o registro anterior foi mesclada com melodias fortes e empolgantes, muitas vezes levadas pelo violão ao lado do mellotron, deixando a guitarra quase totalmente em segundo plano. A faixa-título e as duas músicas iniciais, “Monolith” e “Ricochet“, já servem para indicar este como o legítimo sucessor de Vemod na discografia do quarteto, no que se refere à qualidade. A balada acústica “The War Is Over” rendeu o primeiro videoclipe oficial do Anekdoten, e tem o mesmo clima de “The Games We Play”, com o violão e os teclados tomando conta da melodia. “What Should But Did Not Die” tem um clima claustrofóbico, em contraponto com a quase alegria da instrumental “Seljak”, que encerra os trabalhos. Um grande álbum, que indicou um novo caminho para a sonoridade do grupo, sem se afastar de seu estilo original, mas alcançando finamente o “som próprio” tão procurado por tantas outras formações do rock mundial. A Time Of Day [2007] Seguindo a fórmula de Gravity, com muitos violões ao invés de muralhas de guitarras e o mellotron como destaque nas composições, o Anekdoten mantém o estilo que encontrou naquele álbum, embora sem o mesmo brilho. A abertura com “The Great Unknown” é o melhor momento do álbum, seguida de perto pela faixa seguinte, “30Pieces“, e pela agitada “In For A Ride“, levada em um ritmo contagiante pelo mellotron. “A Sky About To Rain” é uma bela balada, complementada pela instrumental “Every Step I Take”, que funciona como uma espécie de coda para a faixa anterior. “Stardust And Sand” e “Prince Of The Ocean” são mais lentas, e “King Oblivion” mais uma vez apresenta um clima sufocante, como em vários momentos da discografia dos suecos. Um álbum não tão bom quanto o anterior, mas ainda assim acima da média. Chapters [2009] Bela coletânea dupla, que funciona como uma excelente porta de entrada ao universo do grupo (depois de Vemod, claro). No primeiro CD, músicas dos discos Gravity e A Time Of Day, além da faixa-título de From Within e da inédita “When I Turn“, balada levada pelo piano (tocado por Per Wiberg, do Spiritual Beggars e do Opeth, que também participa do disco de estreia do grupo), com um belo trabalho de mellotron, executado por Nicklas. No segundo CD, versões alternativas ou retiradas de demos para músicas dos três primeiros discos e de A Time Of Day, com destaque para “Sad Rain”, pela primeira vez lançada oficialmente fora do Japão (em uma versão diferente da que saiu como bônus em Vemod naquele país). Uma pena não terem incluído o cover de “Lament”, do King Crimson, presente no bootleg Jurassic Demos, e as ausências de “Mars” e “Muscle Beach Benediction”, presentes na coletânea Progfest 94, e do cover de “Cirkus” (também do King Crimson) registrada na rara compilação This Is An Orange, canções muito procuradas pelos fãs do grupo devido à dificuldade de se encontrar estes discos no mercado.

Discografia do Virgin Steele - Parte 2

Invictus [1998] Apesar de não ter o mesmo título dos dois álbuns anteriores, Invictus é tido pela banda como a terceira parte da trilogia The Marriage Of Heaven And Hell. Entretanto, estilisticamente, este disco mostra claramente uma mudança em relação aos seus antecessores. Enquanto as partes I e II tinham uma sonoridade mais progressiva, Invictus apostava na agressividade, e é certamente o disco mais pesado da discografia da banda. A sonoridade chega a lembrar os momentos mais agressivos do Manowar, banda a qual o Virgin Steele sempre foi comparada, muitas vezes mais pelo visual e temática do que pelo som. Contudo, em Invictus até os vocais de Defeis lembram os de Eric Adams, e algumas músicas seguem a linha do que o Manowar fez em The Triumph Of Steel, um de seus discos mais pesados e brutais. Esta dose extra de peso e violência fez bem ao som da banda, e fez de Invictus mais um dos discos favoritos dos fãs, tanto que músicas como a faixa-título, “Defiance”, “Through Blood And Fire” e “Dust From Burning” permanececem nos set lists do grupo até hoje. Mas mesmo em meio a tantos bons momentos, o grande destaque do disco é “Veni, Vidi, Vici“. Com mais de 10 minutos de duração, a faixa é repleta de riffs e passagens memoráveis, além de um refrão maravilhoso. Mais uma obra prima de David Defeis. The House Of Atreus: Act I [1999] Com a conclusão da saga The Marriage Of Heaven And Hell, David Defeis anunciou um projeto ainda mais ousado: uma ópera heavy metal baseada em Orestéia, uma trilogia de tragédias gregas escrita por Ésquilo, tratando da maldição sobre a família Atreus após a guerra de Troia. O projeto incluía até planos para apresentar a ópera em teatros. Assim, em 1999, foi lançada a primeira parte deste projeto, o disco The House Of Atreus: Act I. A sonoridade do disco misturava a agressividade de Invictus com o lado progressivo das duas partes de The Marriage Of Heaven And Hell, e novos clássicos da banda surgiram através de“Kingdom Of The Fearless“, que tem um riff e um refrão sensacionais; “Through The Ring Of Fire”, mais cadenciada e pesada; e “Great Sword Of Flame”, mais rápida e direta. Outro destaque é a balada épica “Gate Of Kings”, que encerra o disco junto com a instrumental “Via Sacra” de uma maneira sinfônica e melancólica. Como curiosidade, vale a pena citar que a faixa “The Fire God” é a mesma do disco Stay Ugly, do Piledriver, composta por David Defeis, que decidiu reaproveitá-la com a sua própria banda. Apesar de ser um belo disco, The House Of Atreus: Act I pode ser um pouco cansativo para quem não está acostumado com a sonoridade da banda, devido a grande quantidade de introduções e interlúdios que antecedem as músicas para dar uma maior conformidade a história. Portanto, pode não ser o melhor disco para conhecer o grupo, mas é sem dúvida um grande trabalho. The House Of Atreus: Act II [2000] A segunda parte da ópera metal de David Defeis segue o mesmo estilo da primeira. Lançado em cd duplo, o disco é repleto de canções épicas, pesadas e marcantes, além de belos riffs e solos de Edward Pursino. O vocal de Defeis, entretanto, abandona um pouco a agressividade ouvida em Invictus, e aposta em passagens mais suaves nos refrões, que muitas vezes são mais falados do que cantados. Ainda assim, o disco apresenta muitos destaques, incluindo “Wings Of Vengeance”, “Wine Of Violence“ e “Flames Of Thy Power”. E se no disco anterior Defeis recuperou uma música do Piledriver, neste ele transforma “Call Of The Exorcist’, do Exorcist, projeto dele e de Pursino que lançou o disco Nightmare Theater em 1985, em “The Fires Of Ectasy”, mantendo todo a parte instrumental e alterando a letra para se encaixar na história. Assim como o primeiro ato, The House Of Atreus: Act II pode ser cansativo para quem não conhece a banda, por ser duplo e por conter diversas introduções. Mesmo assim, é um disco forte, repleto de boas composições, riffs e refrões. Hymns To Victory [2002] Para celebrar os 20 anos de carreira, em 2002 o Virgin Steele lançou dois albuns especiais. O primeiro, Hymns To Victory, era uma coletânea com os seus maiores sucessos remasterizados, outras com mixagens alternativas, uma nova versão acústica para “Spirit Of Steele” e 2 músicas inéditas, “Saturday Night” e “Mists Of Avalon”. No geral, um bom apanhado da carreira da banda, e um ótima escolha para aqueles que querem conhecer seu som, ainda que diversas músicas sensacionais tenham ficado de fora. Book Of Burning [2002] Já The Book Of Burning trazia regravações de músicas da fase Jack Starr, uma vez que Virgin Steele, Guardians Of The Flame e Wait For The Night nunca haviam sido relançados oficialmente em CD. As novas versões eram mais pesadas e melhor produzidas, e se encaixavam perfeitamente à sonoridade atual da banda, principalmente “Don’t Say Goodbye (Tonight)” e “Children Of The Storm”. Havia ainda 4 músicas compostas por David Defeis e Jack Starr em 1997, chamadas na época de Reunion Of Steel – The Sacred Demo, quando Starr tentava formar uma nova banda e teve a ajuda de Defeis nestas composições. Estas músicas (“Hellfire Woman”, “The Chosen Ones”, “Rain Of Fire” e “The Final Days”) lembravam bastante o material do Guardians Of The Flame, mais direto e menos épico que os últimos discos do Virgin Steele. Por fim, havia ainda uma música das sessões de Noble Savage, a festiva “Hot and Wild”, e duas músicas compostas por Defeis para o Original Sin, banda que tinha a sua irmã como vocalista nos anos 80, “Conjuration Of The Watcher“ e “The Succubus”, duas das melhores músicas desta compilação. Visions Of Eden [2006] Após quatro anos sem lançamentos, o Virgin Steele voltou em 2006 com mais um projeto ousado: Visions Of Eden, inicialmente batizado de The Lilith Project, foi concebido como a trilha sonora para um filme imaginário, baseado na lenda de Lilith, a suposta primeira esposa de Adão, que foi expulsa do paraíso por não ser submissa aos desejos do marido. A sonoridade das músicas nesse disco é um pouco mais sinfônica, com mais ênfase nos teclados e climas do que nas guitarras, e os vocais de Defeis estão mais suaves, com menos partes agressivas e mais falsetes e passagens faladas. Ainda que um pouco irregular, o disco tem diversos bons momentos, como a ótima faixa de abertura “Immortal I Stand (The Birth Of Adam)“, que tem ótimas passagens de guitarra; as pesadas “Bonedust” e “Childslayer”, que remetem ao material das duas partes do The House Of Atreus; e duas das melhores baladas escritas por Defeis, “Angel Of Death” e “Visions Of Eden”. No geral, Visions Of Eden não é um disco que se assimila de imediato, como Noble Savage ou Invictus, mas que cresce a cada audição. E ainda que não seja o melhor disco da banda, uma vez assimilado, nos proporciona 80 minutos de excelente música. The Black Light Bacchanalia [2011] O mais recente disco do Virgin Steele resgata um pouco da agressividade perdida no último lançamento, mas retendo boa parte do lado sinfônico da banda. A primeira faixa, “By The Hammer Of Zeus (And The Wrecking Ball Of Thor)“, já deixa isto bem claro, com um excelente riff de guitarra e passagens de teclado, e é uma das melhores músicas da banda. “In A Dream Of Fire” é outra faixa onde as guitarras predominam, ainda que o teclado conduza boa parte de sua bela melodia. “To Crown Them With Halos” retoma a tradição da banda de lançar músicas longas e épicas, e ainda que não seja uma nova “Emalaith”, os resultados são muito bons. Entretanto, outras faixas acabam se perdendo por serem longas ou pretensiosas demais, com muitas viagens instrumentais e excessos vocais de David Defeis. Resumindo, ainda que tenha diversos bons momentos, The Black Light Bacchanalia pode soar cansativo para quem não está acostumado com a sonoridade da banda, e o excesso de pretensão em criar faixas épicas e clássicas é provavelmente seu maior problema.

Discografia Comentada: Virgin Steele

Formado em 1981, o Virgin Steele surgiu na prolífica cena do estado de Nova York, de onde também vieram o Riot, o The Rods e o Manowar. Originalmente composta pelo guitarrista Jack Starr, o vocalista David Defeis, o baixista Joe O’Reilly e o baterista Joey Ayvazian, a banda, que teve diversos altos e baixos em sua carreira, aporta para dois shows no Brasil esta semana, em São Paulo e Curitiba, e assim sendo, analisaremos seus lançamentos nesses mais de 30 anos de carreira. Virgin Steele [1982] O primeiro disco do Virgin Steele mostra uma banda ainda buscando sua identidade, e bastante influenciada pelos seus conterrâneos do Riot. O som trafega entre o hard rock e o heavy metal, e é até inocente em alguns momentos. Os principais destaques ficam para a pesada faixa de abertura “Danger Zone”, a bela balada “Still In Love With You”, “Children Of The Storm” (lançada originalmente na coletânea US Metal Vol. II e que era uma das músicas favoritas de James Hetfield e Lars Ulrich do Metallica) e para “Virgin Steele”, a música mais épica do disco, repleta de influência do Rainbow da fase Dio, e que mostrava a direção que a banda passaria a seguir em um futuro próximo. Em resumo, Virgin Steele apresenta uma banda ainda em formação, com muito potencial, mas ainda distante da qualidade que a banda alcançaria em um futuro próximo. Guardians Of The Flame [1983] Enquanto o primeiro disco era uma promessa, Guardians Of The Flame demonstrava todo o potencial da primeira formação do Virgin Steele. Melhor produzido, com composições mais fortes e ótimas atuações tanto de Jack Starr quanto de David Defeis, o disco é um dos clássicos do heavy metal norte-americano do início dos anos 80. “Don’t Say Goodbye” abre o disco com um riff cavalgado a lá Iron Maiden, e tem um ótimo refrão, enquanto “Life Of Crime” lembra as músicas mais comerciais do Judas Priest. Já a faixa título tem um riff simples, mas genial, de Jack Starr, e é outro destaque do disco. O disco se encerrava com a balada “A Cry In The Night”, mais épica, conduzida pelo piano, que também apontava para o futuro da banda. Depois de anos fora de catálogo, Guardians Of The Flame foi relançado em cd em 2002, tendo como bônus o EP Wait For The Night, também de 1983, uma entrevista e uma faixa ao vivo. O EP, gravado pela mesma formação, segue a linha do disco, com as pesadas “I Am The One” e “Go Down Fighting”, onde a guitarra de Jack Starr brilha, e a faixa-título “Wait For The Night”, um típico hino heavy metal. Noble Savage [1986] Após o lançamento do EP Wait For The Night, o guitarrista Jack Starr e o vocalista David Defeis passaram a divergir sobre o futuro da banda. Entretanto, ambos pretendiam continuar com o nome da mesma, o que gerou uma pequena batalha por sua posse. Com a vitória de Defeis, Starr fundou o Burning Starr, enquanto o vocalista recrutou seu amigo de longa data Edward Pursino para assumir as guitarras da banda. Ambos já haviam trabalhado juntos em discos do Exorcist e do Piledriver, então assim que o problema com o nome da banda foi resolvido, a nova formação do Virgin Steele entrou em estúdio para registrar seu novo álbum. E o resultado foi nada menos do que espetacular. Lançado em 1986, Noble Savage mostrava uma banda revigorada, com uma sonoridade única, mais clássica e épica. “We Rule The Night” abre o disco com um riff que remete a “We Rock”, do Dio, e depois cai em uma levada cavalgada empolgante. Os vocais de Defeis também se mostravam mais maduros, mais graves e agressivos. “Thy Kingdom Come” e “Angel Of Light” mostravam que os teclados passavam a ter mais importância no som da banda, criando climas épicos, assim como o Rainbow fez em Rising. Mesmo com tantos bons momentos, o clímax do disco era a sua faixa título. Dona de um riff espetacular de Pursino, ela reunia todas as características do novo Virgin Steele: o peso, o clima épico, as dobras de guitarra e teclado, o vocal mais agressivo de Defeis e um refrão espetacular. Indiscutivelmente, “Noble Savage” é um dos grandes hinos do heavy metal oitentista norte americano. Noble Savage foi relançado em cd diversas vezes, e a sua última prensagem trouxe um cd bônus com dezenove faixas bônus, entre elas diversas músicas compostas na época do disco e que jamais haviam visto a luz do dia. Um item imperdível para os fãs da banda e de heavy metal em geral. Age Of Consent [1988] Dando continuidade ao bom momento iniciado com o disco anterior, em 1988 o Virgin Steele lançou Age Of Consent. Mantendo a mesma sonoridade de Noble Savage, o disco apresentava mais canções marcantes, incluindo a favorita de muitos de seus fãs:“The Burning Of Rome (A Cry For Pompeii)”. Assim como “Noble Savage” no disco anterior, esta música reúne todas as principais características do som da banda: um belíssimo riff de guitarra, teclados que dão um clima épico, vocais marcantes e um refrão forte. As outras músicas do disco se dividiam entre as mais pesadas e épicas como “Chains On Fire”, “Lion In Winter”, a direta “Let It Roar” e a grudante “On The Wings Of The Night”, que obtiveram excelentes resultados; e outras mais fracas, que tentavam aproximar o som da banda ao das bandas de hard rock em alta nos EUA na época, como “Seventeen”, “Stay On Top” e “Tragedy”. Age Of Consent também foi relançado diversas vezes, inclusive com alterações na capa e na ordem das músicas, e apesar de não ser tão bom quanto Noble Savage, também é um dos favoritos dos fãs da banda. Infelizmente, problemas com a gravadora e com a distribuição do disco o fizeram passar desapercebido na época, o que acarretou o fim prematuro da banda em 1989. Life Among The Ruins [1993] Quatro anos após o lançamento de Age Of Consent, David Defeis decidiu retomar a carreira do Virgin Steele com o lançamento de Life Among The Ruins. Ao contrário do heavy metal épico de seus discos anteriores, as músicas do álbum mostravam uma sonoridade mais bluesy, com muita influência do Whitesnake do começo de carreira. A faixa de abertura, “Sex Religion Machine”, já deixa essa nova proposta clara, e é repleta de groove. A melódica “Love Is Pain”, que chegou a ganhar um videoclip, não ficaria deslocada em um disco do Danger Danger, e apesar de ser uma bela composição, não lembra em nada os trabalhos anteriores da banda. Já “Crown Of Thorns” lembra o que o Dokken fez em faixas como “It´s Not Love”, enquanto “Tôo Hot Too Handle” vai na linha do Ratt. Em resumo, um disco que, apesar de não ser ruim, não lembra em absolutamente nada o que a banda havia feito antes, e nem o que faria depois. Rejeitado por boa parte dos fãs, nenhuma de suas faixas é executada pela banda em seus shows hoje em dia. The Marriage Of Heaven And Hell: Part I [1994] Um ano após o retorno à ativa com o mal recebido Life Among The Ruins, o Virgin Steele surpreendeu a todos com o lançamento de The Marriage Of Heaven And Hell: Part I. Enquanto o disco anterior apostava em uma sonoridade mais comercial e hard rock, o novo lançamento investia novamente no heavy metal épico de Noble Savage e Age Of Consent, mais ainda mais técnico, rebuscado e pomposo. Em uma época onde este tipo de música estava em baixa, e as principais bandas do estilo estavam paradas, buscando novas sonoridades ou simplesmente em crises criativas, o Virgin Steele lançou um disco ousado, que ao mesmo tempo respeitava sua sonoridade clássica e estabelecia uma identidade única para a banda. “I Will Come For You”, que abre o disco, e “Life Among The Ruins”, que não tem nenhuma conexão com o disco anterior, seguiam a cartilha clássica da banda, com riffs inspirados e ótimas perfomances de Defeis, e ao mesmo tempo demonstravam o lado mais técnico da banda. A junção de teclados e guitarras voltava a funcionar a perfeição em faixas como “Blood And Gasoline”, outro destaque do disco. A faceta épica aparecia em “Self Crucifixion”, dona de um dos melhores refrões da história do grupo, enquanto “Blood Of The Saints” mostrava que o lado mais direto e agressivo da banda continuava intacto. O disco se encerrava com a instrumental “The Marriage Of Heaven And Hell”, cujo belo tema ainda apareceria em diversas músicas nos dois discos seguintes, The Marriage of Heaven and Hell: Part II e Invictus, todos partes de uma trilogia. Em resumo, The Marriage Of Heaven And Hell: Part I mostrava em pleno 1994 que o Virgin Steele continuava vivo e bem, com uma sonoridade única, pesada, épica e majestosa. The Marriage Of Heaven And Hell: Part II (1995) Lançado um ano após a primeira parte da trilogia, The Marriage Of Heaven And Hell: Part II conseguiu o que parecia impossível: superou os resultados da primeira parte e se tornou, junto a Noble Savage e Age Of Consent, o disco favorito de boa parte dos fãs da banda. Investindo no mesmo metal clássico, técnico e pomposo do disco anterior, a banda conseguiu forjar músicas ainda mais fortes, fazendo da segunda parte desta trilogia uma verdadeira coletânea de clássicos: a rápida “Symphony Of Steel”; a mais cadenciada, mas não menos fenomenal, “Crown Of Thorns”; e a pesada “Victory Is Mine”. Ainda assim, os dois principais destaques do disco são as suas duas músicas mais épicas e longas: “Prometheus (The Fallen One)” e “Emalaith”. A primeira é mais pesada e progressiva, enquanto a segunda, com seu refrão sensacional e inspiradíssimas passagens instrumentais, é uma das mais belas canções compostas por David Defeis. Em uma época marcada por diversos lançamentos medíocres dos gigantes do estilo, o Virgin Steele lançava um álbum que seria um marco em sua discografia, investindo em seu próprio estilo ao invés de nas tendências em alta na época. Mais um disco obrigatório para os fãs de um bom heavy metal.

Opinião de Regis Tadeu sobre o caso dos garis

Greve dos garis cariocas foi tapa na cara do Brasil esnobe Sempre tive o maior respeito pelos garis. São eles que fazem aquilo que você certamente tem nojo: recolher o lixo de uma cidade inteira. Para piorar, somos um dos países mais ‘porcalhões’ do planeta, uma nação desprovida de uma única rua totalmente limpa. É, é isto mesmo. Tente encontrar um lugar sequer sem um papel amassado no chão, uma bituca de cigarro, um palito de sorvete ou qualquer outra coisa jogada por alguém. Não existe. O Brasil é um país imundo. Em vários sentidos, diga-se de passagem... Pois não é que rolou uma greve dos garis do Rio na semana passada? Justo eles, considerados por grande parte da população como “gente desqualificada profissionalmente” - o que é um tremendo absurdo! -, como se recolher o lixo e tirar das ruas qualquer coisa que as pessoas tenham desprezado fosse um atestado de fracassado. E a turma foi esperta na hora de reivindicar melhores salários e mais benefícios para a sua profissão: escolheu exatamente o final do Carnaval, o evento que melhor representa a total falta de educação e de cidadania do brasileiro. Perfeito! Não foram poucas as pessoas que ficaram indignadas com esta classe trabalhadora. Tenho certeza que todas elas contribuíram bastante para a imundice que assolou o Rio dias atrás. Inclusive o próprio prefeito da cidade, Eduardo Paes, flagrado pelas câmeras ao jogar um pedaço de sanduíche no chão. A bronca desta gente tratou os garis como se fossem escravos amotinados dentro de um navio negreiro. O prefeito Eduardo Paes demitiu trezentos garis e ameaçou demitir mais novecentos, uma juíza multou o sindicato da categoria em R$ 50 mil reais por dia e este, por sua vez, tratou de “tirar o seu da reta” ao apregoar pelas mídias que a greve era “coisa de um trezentos aí”. Foi então que aconteceu o que para alguns seria impensável: os garis saíram em passeata pelas ruas do Rio e foram... aplaudidos! É, isto mesmo. A população da tal “Cidade Maravilhosa” se pôs a bater palmas para aqueles que marchavam pela conquista de um salário minimamente digno. Até então, um gari carioca recebia R$ 803 mensais, mais um ticket de refeição diário de inaceitáveis R$ 12, sem qualquer direito a horas extras – ou seja, trabalhavam nos fins de semana, feriados, Carnaval e Ano Novo de graça!!! – ou qualquer ganho por insalubridade. No fundo, centenas e centenas de cariocas nas calçadas fizeram questão de manifestar o seu repúdio em relação à desigualdade social decorrente da já enraizada corrupção em todas as esferas do Brasil, principalmente na classe política e também nos sindicatos, cada vez mais cúmplices dos poderosos. Os garis foram os seus “heróis”. Vendo que a situação iria piorar em velocidade supersônica, o prefeito capitulou e, a partir de agora, cada gari carioca vai ganhar R$ 1.100, mais ticket refeição de R$ 20, direito à hora extra e 40% de insalubridade pelo trabalho que fazem. Sei que tem gente que acha que os garis são seres invisíveis, mas torço para que até mesmo estas pessoas desprezíveis tenham percebido que tudo isto é um sinal, um fio de esperança. Talvez não estejamos tão insensíveis às humilhações impostas aos menos favorecidos...

Discografia Comentada: Moby Grape

Extravagância, erros de produção, exageros individuais, prisões, escândalos, pedofilia, sucesso rápido e declínio vertiginoso, carreiras destruídas por drogas, ídolos esquizofrênicos e completamente insanos, tudo isso e muito mais acabou sendo misturado para formar a melhor banda de San Francisco. Estamos falando do Moby Grape, talvez o grupo mais importante já surgido nos Estados Unidos. Com uma carreira repleta de baixos, e mais baixos ainda, não por questões musicais, mas sim pelos diversos conflitos entre grupo, gravadora, empresário e as drogas, o Moby Grape lançou, entre suas idas e vindas, oito álbuns, sendo seis de estúdio e dois ao vivo somente com músicas inéditas. Tendo na sua formação principal três guitarristas (Skip Spence, Peter Lewis e Jerry Miller), mais o baixista Bob Mosley e o baterista Don Stevenson, o grupo influenciou nomes como Led Zeppelin (principalmente Robert Plant), Free e Doobie Brothers, foi responsável direto pelo surgimento de bandas como Poco, Eagles e Dire Straits e virou ícone para Michael Stipe, vocalista e líder do R.E.M.. Formado em 1965, sendo a formação citada acima a primeira de muitas, o Moby Grape revolucionou o rock, apresentando cinco membros que cantavam maravilhosamente bem (sendo o baterista o principal vocalista) e sendo o primeiro a fazer muitas coisas que hoje são comuns no mundo da música, além de ter sido pioneiro ao empregar fortemente o country em suas canções (dando origem ao country rock), fazer discos extremamente versáteis, que iam do blues ao psicodelismo naturalmente, e ser a primeira banda a dar aos fãs um disco bônus, em 1968. Para os desinformados, Jerry Miller é simplesmente o cara que mudou a forma de tocar de Jimi Hendrix, ensinando-o tudo o que ele precisava fazer com a guitarra e com a produção das canções ainda em 1964, que o tornaram depois o Deus Negro do instrumento. Então, vamos saborear a geleia de uva dos nove discos do grupo (oito oficiais e mais o disco bônus) Moby Grape [1967] A estreia do Moby Grape é praticamente perfeita. Com um contrato de cinco anos com a gravadora Columbia, o grupo fez um álbum repleto de clássicos. Desde a abertura com o boogie de “Hey Grandma“, até o encerramento com “Indifference”, podemos perceber quão avançados eram Miller, Lewis, Spence, Stevenson e Mosley tanto do ponto de vista vocal quanto do ponto de vista instrumental. Desconsiderando a vinheta “Naked, If I Want To”, Moby Grape é composto de canções lindamente trabalhadas (“Someday”, “Sitting By The Window“), rock típico da Califórnia (“Fall On You”, “Mr. Blues” e “Come In The Morning“), country-rock (“8:05“, “Ain’t No Use”), jazz (“Someday”) e rock pesado (“Changes”, “Lazy Me”) misturam-se em uma receita única, que deu certo por que a versatilidade de cada membro foi fundida em uma panela mágica que cozinhou cada canção com um tempero mais que especial. Destaque maior para a viajante “Omaha“, uma espetacular faixa que revela ao mundo o talento de um gênio indomável, Skip Spence, através de um ácido punk rock onde os solos individuais das guitarras de Miller e Lewis mostravam para Cream e Jimi Hendrix como destruir o mundo com solos de guitarra sem esforçar-se em longos minutos. A versão original de Moby Grape vinha acompanhada de um pôster gigantesco com a mesma foto da capa. Aliás, a capa original acabou sendo proibida, já que nela, Stevenson aparece com o dedo médio erguido em posição ofensiva, sendo este dedo banido nas capas posteriores, em um grotesco corte. A festa de lançamento do álbum foi cercada de polêmicas e prisões que abalariam o resto da carreira do grupo, uma grande injustiça para uma banda tão importante, que não se entregou com tudo o que ocorreu naquela noite e também com o boicote que o empresário Matthew Katz e a gravadora Columbia Records começaram a fazer depois. Moby Grape é essencial, eleito pela crítica especializada o melhor do grupo, mas o quinteto estava apenas começando sua carreira, e tinha muito mais para dar. Wow [1968] Gravado durante um exílio em Nova Iorque, onde Spence pirou com as drogas, chegando ao ponto de tentar matar seu colega de seis cordas Peter Lewis a machadadas, levando Peter a sair da banda pouco antes do término das gravações, esse é o mais ousado disco da carreira da banda tanto musicalmente quando artisticamente. Falando primeiro da música, o Moby Grape contratou uma orquestra de cordas e metais para participar das lindas composições do quinteto, utilizando de muitas experimentações sonoras como buzinas e outros elementos percussivos, em uma espécie de Pet Sounds do grupo, que acabaram sendo massacradas pela crítica. As orquestrações podem ser conferidas nas lindas baladas “The Place And The Time”, “Three Four”, “Bitter Wind” e “He”, essa uma das mais bonitas canções da história, com um arranjo vocal impecável. As experimentações sonoras tem destaque no rockzão de “Motorcycle-Irene” e no engraçado country de “Funky-Tunk“. O grupo capricha em ótimos rocks, destacando o duelo de metais e guitarra em “Can’t Be So Bad“, os pesados riffs de “Murder In My Heart For The Judge” e a versão elétrica de “Naked, If I Want To”. O psicodelismo também está presente, com “Rose Colored Eyes”, e a penúltima faixa do disco foi destinada para a melhor canção de Wow, talvez da carreira do grupo, e certamente, entre os cinco melhores blues da história: “Miller’s Blues“. Um blues sensacional que coloca a casa abaixo logo na introdução, com o belíssimo solo de guitarra e metais. Spence no piano e Miller nas guitarras dão show, e o naipe de metais é algo quase inexplicável de tão genial e belo, acompanhado pela excelente levada da canção. Não é a toa que Led Zeppelin, Taste e Free beberam na fonte bluesística do Moby Grape anos depois. Ouçam o duelo de guitarras e metais e segurem o balanço do corpo. Sobre o lado artístico, o grupo apresentava inserido no LP de 33 1/3 rpm uma faixa que só pode ser ouvida em 78 rpm, “Just Like Gene Autry: A Foxtrot“, uma homenagem feita por Spence ao jazz dos anos 20, e que só foi conferida pelos fãs que não tem um toca-discos de 78 rpm quando saiu a versão em CD. Mesmo com as críticas negativas da imprensa, que torceu o nariz para as orquestrações e experiências sonoras, a maioria dos fãs veneram o disco, sendo que eu particularmente considero como forte candidato a melhor do grupo, bem a frente de seu ótimo álbum de estreia. Wow ainda trazia mais uma surpresa: o primeiro disco bônus da história do rock, Grape Jam. Grape Jam [1968] Quando o fã do Moby Grape adquiria o LP de Wow, ele recebia junto um LP bônus, apresentando sessões de improvisos que o quarteto remanescente (sem Lewis) fez durante as gravações de Wow. Aproveitando a presença dos pianistas Al Kooper e Mike Bloomfield em duas canções, Miller, Spence, Mosley e Stevenson gravaram cinco improvisos que, em um clima de total descontração, são excelentes complementos para a aula musical do disco principal. Desde a abertura com outro lindo blues, “Never“, até o encerramento com “The Lake”, repleta de improvisos com o órgão elétrico de Spence e vozes sussurradas apresentando o poema de um fã do grupo, em uma viajante canção com muitos efeitos sonoros, destacando a cítara e a distorção nos vocais, Grape Jam é puro feeling e demonstrações do tipo “olha o que podemos fazer quando estamos a vontade”. A longa “Marmalade” é uma incrível improvisação, com Bloomfield fazendo solos complicados no piano, mas em perfeita harmonia com os ácidos solos de Miller. “Boysenberry Jam” é uma improvisação de Spence ao piano, em seis delirantes minutos de um grande funk, enquanto “Black Currant Jam“, contando com Al Kooper, é um blues embalado, com um excelente solo do pianista. O grande destaque é realmente “Never”, um blues triste, pesado, cuja melodia e parte inicial da letra foram posteriormente chupadas pelo Led Zeppelin em “Since I’ve Been Loving You”, e que assim como “Miller’s Blues”, mostra toda a potencialidade de Miller, um dos maiores guitarristas da história, com um solo que faz a guitarra simplesmente chorar. ’69 [1969] Spence abusou demais das drogas e das loucuras, e a solução foi despedir seu principal fundador (igualmente como o Pink Floyd fez com Syd Barret). Com Spence sendo tratado para curar sua loucura, que não parava de piorar por causa do forte abuso de drogas, Lewis foi chamado novamente, mesmo começando a sofrer com problemas psíquicos. O grupo isolou-se no interior da Califórnia para mais uma vez fazer uma revolução. Em ’69, mostram ao mundo que o country também pode ser tocado por uma banda de rock, sendo pioneiro no que foi designado posteriormente por country-rock. Totalmente diferente de seus dois “megalomaníacos” álbuns anteriores, este é um álbum muito leve, como mostram os boogies de “Ooh Mama Ooh” (com um show de vocalizações) e “Hoochie”, as baladas country “Ain’t That a Shame“, “It’s A Beautiful Day Today” e “If You Can’t Learn From My Mistakes”, e as lindas “What’s To Choose” e “I Am Not Willing“, essa uma verdadeira balada comandada por piano e com Miller mostrando seus dotes também na steel guitar. O rock’n'roll puro aparece timidamente em “Trucking Man“, “Captain Nemo” e “Going Nowhere”. Destaque maior para “Seeing“, composta por Spence e que ficou fora de Wow, em um ritmo leve que vai crescendo com a entrada da bateria e do baixo, transformando-se em um dos mais pesados rocks do Moby Grape. ’69 foi um fracasso de vendas, mas sua importância musical foi fundamental para Don Henley (Eagles), Mark Knopfler (Dire Straits), Jim Messina (Poco) e tantos outros, encontrar a inspiração e fazer de suas bandas as melhores no estilo. Truly Fine Citizen [1969] Mosley brigou com todo mundo e largou a barca, indo para a Marinha americana, onde foi diagnosticado com esquizofrenia. Como o contrato com a Capitol exigia mais um disco, Lewis, Miller e Stevenson foram forçados a fazer mais um álbum. Chamando o baixista Bob Moore, foram para as três datas disponibilizadas pela gravadora e registraram uma sequência mediana para ’69. Ao lado do produtor Bob Johnston (Johnny Cash, Leonard Cohen, Willie Nelson), Truly Fine Citizen começa bem agitado, com “Looper” e a faixa-título, mergulhando em canções suaves como “Beautiful Is Beautiful“, “Love Song” (parte 1 e parte 2), e o country de “Right Before My Eyes” e “Treat Me Bad”. Os maiores destaques vão para “Open Up Your Heart”, que lembra muito as canções do Wow, com ótimas vocalizações, “Tongue-Tied”, composta por Miller em parceria com Spence, e com Miller solando muito, e a doideira de “Now I Know High”, uma balada repleta de solos de guitarra. Depois desse, o grupo encerrou as atividades, mas não por muito tempo. 20 Granite Creek [1971] Esse é um daqueles discos com uma música que é tão boa, mas tão boa, que as demais mesmo sendo boas acabam parecendo ruins. O produtor David Rubinson (responsável pela produção de todos os discos da era Columbia) conseguiu um contrato com a gravadora Reprise no mesmo período que Spence estava saindo do hospício. A formação original se reunia depois de três anos, adicionada de Gordon Stevens na viola, dobro e mandolim. Contando com a participação do próprio Rubinson no piano e Andy Narell na percussão, este é o álbum com mais canções country da carreira da banda: “I’m The Kind Of Man That Baby You Can Trust” (e sua parte final bem bluesística); “About Time”; “Apocalypse”, “Roundhouse Blues” e “Ode To The Man At The End Of The Bar” (essa com a participação de Jeffrey Cohen no baixo e Mosley tocando bateria) são as representantes do estilo. Mas 20 Granite Creek conta ainda com bons rocks, como “Goin’ Down To Texas” e “Horse Out In The Rain” ou os boogies de “Gypsy Wedding” e “Road To The Sun”. O grupo ainda apresenta uma novidade em suas canções, o funk Motowniano de “Wilds Oats Moan”. Porém, todas elas juntas não conseguem superar a abertura do lado B. Única faixa que conta com a participação de Spence, “Chinese Song” coloca tudo o que você ouviu até o momento para o ar. Sua beleza acaba sendo um brilho ofuscante para as demais, tamanha a profundidade alcançada por mais uma grande composição de Spence, mostrando que mesmo sofrendo de excessos de loucura, ainda fazia as melhores canções do grupo. Comandando o koto (instrumento japonês), Spence criou o riff mais bonito da carreira do Moby Grape, e a canção é construída em seus cinco maravilhosos minutos instrumentais em cima desse embriagante riff, de forma suave, calma e relaxante. O clima zen da canção é fantástico, e apenas ela vale as doletas investidas no vinil /CD. Digna canção para ser uma maravilha prog. Depois disso, o Moby Grape novamente se separou, com Spence voltando a piorar e Mosley começando a sofrer suas instabilidades emocionais, que o levaram também a loucura anos depois. Mas a carreira não pararia por ai. Live Grape [1978] Apesar de não conter o nome do grupo na capa, devido à problemas judiciais, esse é sim um álbum do Moby Grape. Na verdade, não é apenas um álbum, mas o melhor álbum da carreira do grupo. Depois de seis anos afastados, onde Spence passou por uma sessão de exorcismo, chegou a morrer e no necrotério acabou ''ressucitando'', para dias depois tentar novamente matar Lewis, a dupla Lewis e Spence, mais Miller, o ex-Doobie Brothers, Cornelius Bumpus (teclados, saxofone), o baterista John Oxendine e o baixista Chris Powell se reuniram para mais uma vez resgatar Spence do Limbo. Mosley não pode participar do retorno, já que estava ao lado de Neil Young no The Ducks, e Stevenson estava ocupado trabalhando com compra e vendas de ações. Fazendo uma série de shows pela Califórnia, e que foram registrados pela Escape Records, esse é o mais versátil disco do grupo. Apenas com canções inéditas, Live Grape contém country (“Here I Sit” e “Love You So Much”), psicodelismo (“The Lost Horizon”), boogies estonteantes (“Your Rider” e “Must Be Goin’ Now Dear”, essa última com um excelente duelo de guitarras), jazz (“Set Me Down Easy”) e rock californiano (“Up In The Air”). Os melhores momentos são daqueles para ficar dias ouvindo. Eles estão no excelente funk de “You Got Everything I Need”, a melhor do disco, com um longuíssimo solo de Bumpus tanto no sax quanto no órgão, além de Miller tocando muito no seu solo, e nos blues de “Honky Tonk”, com outro espetáculo no duelo entre Miller e Spence, bem como um lindo solo de sax, que é o orgasmo da canção, e na fantástica “Cuttin’ In”, que desce suave como um uísque 15 anos em um dia frio, tendo cada nota do excelente solo de Miller aquecendo seu corpo à temperaturas elevadas. Essa é para os fãs de Stevie Ray Vaughan, onde eu sugiro que fechem os olhos e compreendam por que o guitarrista era tão influenciado em Jimi Hendrix, já que Miller demonstra por que ele era o professor de Hendrix, deixando claro que tudo o que o Deus Negro da guitarra tentava fazer no palco era imitar os solos do guitarrista do Moby Grape. Não é necessário dizer que Spence novamente surtou, e de novo, o grupo encerrou as atividades. Moby Grape [1983] Depois de quinze anos em litígio com o ex-empresário Matthew Katz, onde inclusive um Moby Grape falso foi criado, uma trégua na briga entre os dois aconteceu, através da proposta de gravação de um álbum. Moby Grape (também conhecido como ’84 Reunion, Silver Wheels ou Heart Album) reuniu os membros da formação original (sem Skip) em canções medianas, que tentam adaptar a sonoridade sessentista aos anos 80, principalmente com a inclusão de sintetizadores e distorção. A abertura com “Silver Wheels” e “Better Day” é um dos grandes momentos do álbum, assim como o boogie de “Too Old To Boogie”, os rocks de “Sitting And Watching” e “Suzzam” e a belíssima “Queen Of The Crow“, mas existem deslizes em “Hard Road To Follow”, “Think It Over”, “I Didn’t Lie To You” e “American Dream”, muito anos 80 para meu gosto. O country-rock ainda está presente, dessa vez em “City Lights“. Além disso, ’Moby Grape' conta com uma vinheta chamada “Reprise” que não diz para que veio. Destaque maior para a recriação de “Lost Horizon”, repleta de distorções mas mantendo as linhas vocais de sua versão original. O álbum não pegou, as brigas entre Katz e o grupo continuaram, e ’Moby Grape' se tornou o mais raro disco da carreira da banda, mas não o último. Legendary Grape [1989] Lançado originalmente apenas em cassete, numa tiragem de 500 cópias, escondido sob o nome The Melvilles, esse álbum só foi reconhecido como um álbum do Moby Grape em 2003, quando ganhou sua versão digitalizada. Os cinco membros haviam se reunido para angariar fundos para o tratamento de Spence e Mosley (que também foi diagnosticado com esquizofrenia), e com a adição de Dan Abernathy nas guitarras, registraram um álbum muito bom, gravado ao vivo nos estúdios, com pouquíssimos ensaios e aonde Spence foi creditado como tocando ''atmosfera e inspiração''. “Give It Hell”, “On The Dime”, “Lady Of The Night”, “All My Life” e “Talk About Love” são canções pesadas, com um show de vocalizações que mostram novamente por que o Moby Grape foi um dos melhores grupos vocais da história. Há ainda leves canções, como “Bitter Wind In Tanganikya”, “Nightime Ride” e “You’ll Never Know”, o funk de “You Can Depend On Me” e a leve derrapada em “Took It All Away, que não atrapalha em nada nesse que foi o último lançamento do grupo, e que está na minha lista dos cinco melhores (atrás de Live Grape, Wow, Grape Jam e Moby Grape). Como complemento, Skip não aguentou a sequência de tratamentos e faleceu em 1999 vítima de câncer no pulmão. O Moby Grape permanece fazendo shows nos dias de hoje, sem a pretensão de gravar discos, apenas trazendo aos novos e velhos fãs as canções que marcaram sua carreira e sempre homenageando seu principal fundador, Skip Spence, já que o filho de Skip, Omar Spence, tem participado da maioria dos shows tocando guitarra.

Discografia Comentada: W.A.S.P.

Sempre fui fã de bandas que tinham em sua bagagem talento, intrigas, discussões, polêmicas e diversão. Por quê? Porque rock ‘n’ roll é isso! É a irresponsabilidade e a falta de compromisso que garantem à banda o sucesso tão almejado! Livre de fórmulas pré-estabelecidas que causam falta de criatividade e identidade, transformando as bandas de hoje em bandas chatas e corretinhas, sempre em busca da perfeição, com medo de arriscar e chocar! O W.A.S.P. surgiu em 1982, no estado da Califórnia, Estados Unidos, tendo como líder e fundador o talentoso e controverso Blackie Lawless. Logo no início das atividades, surgiu uma polêmica em torno do acrônimo “W.A.S.P”! Não é novidade para ninguém que isso sempre provocou dúvidas e diversas interpretações inusitadas por parte de seus fãs e também da tão complicada sociedade norte-americana. Para muitos, a sigla representa “White Anglo-Saxon Protestant” (“protestante branco anglo-saxônico”), para outros “We Are Sexual Perverts” (“nós somos pervertidos sexuais”). Enfim, quanto mais a banda polemizava, mais a popularidade crescia. Ganhou também notoriedade por seus shows teatrais e suas letras com temas pra lá de sacanas, rendendo à banda, uma briga de grandes proporções com o infame PMRC (Parents Music Resource Center), um comitê formado por esposas de congressistas norte-americanos a fim de “proteger” as crianças dos supostos malefícios incentivados pelo rock. Fatos curiosos à parte, é indiscutível a importância do W.A.S.P. na história do hard rock, banda de forte personalidade e que trouxe para nós composições de altíssima qualidade, garantidas pelo genioso Blackie Lawless. “Ladies, and gentlemen, boys and girls And wild ones of all ages Step right now, I welcome you to come on in Inside Electric Circus The music is your passport, your magic key To all the madness that awaits you Feel the thunder and the frenzy And see all the unusual animals, and the Animals? Well they’re something else…” W.A.S.P. [1984] Foi em 17 de agosto de 1984 que o W.A.S.P. deu seu primeiro tiro certeiro, lançando um álbum com excelentes riffs, solos emblemáticos, refrões pra lá de memoráveis e letras cheias de perversão, sexo e críticas disparadas por Mr. Lawless. O disco realmente é fantástico, praticamente todas as músicas contidas nele são de uma qualidade impressionante, surpreendendo os ouvintes logo na primeira audição. O álbum começa em alto nível com a animalesca faixa de abertura “I Wanna Be Somebody“, velocidade e excelentes refrões. Os outros destaques são as faixas “L.O.V.E. Machine“, “On Your Knees“, a nervosa “Hellion“e a balada “Sleeping (In The Fire)” simplesmente linda. O álbum alcançou status de ouro nos EUA e vendeu mais de um milhão de cópias em todo mundo. Apenas como curiosidade, o W.A.S.P. tentou lançar antes deste debut o single “Animal (Fuck Like A Beast)”, que a gravadora Capitol Records na época recusou-se em colocar no mercado, pois as letras das músicas eram muito agressivas para os padrões da sociedade norte-americana. Só depois de muito tempo é que ele finalmente foi lançado pela gravadora Music For Nations. The Last Command [1985] Segundo grande parte de seus fãs, trata-se do melhor trabalho da banda, que nada mais é que a segunda parte do debut. Trata-se de um registro mais contido em relação à selvageria do primeiro, mas traz grandes composições, que até hoje são tocadas em seus shows, como a excelente “Wild Child” e a despojada “Blind In Texas“. Como destaque, temos também a divertida e suja “Ball Crushe” e a épica “Widowmaker” que tem uma levada fantástica e emocionante. Segundo Lawless foi o álbum onde ele mais cantou e teve trabalho para gravar… “Deus, eu cantei pra caramba nesse disco, eu realmente detonei, levei seis horas para colocar os vocais em Wild Child”. Se você não conhece muito o W.A.S.P., comece por esse. Um disco que resume a boa fase desta grande banda. Inside The Electric Circus [1986] Com a saída do guitarrista Randy Piper, Lawless largou o baixo e assumiu de vez uma das guitarras, trazendo para a banda o baixista Johnny Rod (King Kobra). Aproveitando a ótima repercussão de seu antecessor, o W.A.S.P. entrou novamente em estúdio e colocou no mercado mais um ótimo trabalho. Deixando o hard rock um pouco de lado e investindo mais no heavy metal, o W.A.S.P. alcançou a posição de número 60 na parada de álbuns da Billboard, logo após iniciar uma turnê conjunta com Iron Maiden e Slayer. Confesso que tenho este álbum como um dos meus preferidos, pois foi através dele que conheci a potência da banda, através das faixas “Inside The Eletric Circus“, “9.5.-N.A.S.T.Y.“, onde Lawless grita tanto que os seus tímpanos parecem que vão estourar e a faixa mais conhecida do petardo “I Don’t Need No Doctor“, presente em todos os shows da banda. Outros destaques ficam por conta da faixa de abertura “The Big Welcome”, uma das melhores que já ouvi, simplesmente fantástica para não dizer cinematográfica. Por fim, o cover do Uriah Heep ” Easy Livin“, muito mais pesada e rápida do que a versão original. The Headless Children [1989] Em abril de 1989 chegou às lojas o álbum The Headless Children, causando certo impacto nos fãs, pois o W.A.S.P. cresceu e passou a trilhar novas caminhos, isto é, estava evoluindo para um novo nível de composição, com letras adultas sobre assuntos políticos e religiosos, deixando de lado a maquiagem e a selvageria encontrada nos primeiros discos. Com uma sonoridade mais polida, o W.A.S.P. dali em diante deixou a regularidade de seus álbuns para mostrar a cada trabalho uma diversidade maior com um grau de experimentalismo cada vez mais interessante. Neste disco, os guitarristas Chris Holmes e Lawless mostram toda sua versatilidade, em músicas com solos inspirados; e Frankie Banali, baterista recém chegado do Quiet Riot, mostra toda sua técnica em constantes viradas que acrescentaram muito à nova proposta da banda. Posso apontar como destaque do álbum a faixa “The Heretic (The Lost Child)“, épica e grandiosa, com uma avalanche de solos, “The Headless Children“, com uma levada sensacional e um Lawless cantando demais, “Forever Free“, linda balada, e as igualmente descompromissadas e sujas “Mean Man” e “Rebel In The F.D.G.“. Enfim, trata-se de um dos trabalhos mais fortes do W.A.S.P., se transformando em seu álbum mais vendido até então. The Crimson Idol [1992] Depois da turnê do disco The Headless Children, Chris Holmes deixou a banda, dessa maneira, Lawless começou a trabalhar sozinho na composição daquele que seria um de seus maiores trabalhos, se não o maior, a ópera-rock The Crimson Idol. Para gravá-lo, Lawless chamou Bob Kulick (guitarra) e os bateristas Stet Howland e Frankie Banali. O álbum conceitual narra á história de Jonathan Aaron Steel, um jovem suicida e ícone do rock, que acaba se envolvendo com os perigos da fama e suas consequências. Eleito pela revista Metal Hammer como um dos 20 melhores álbuns conceituais de todos os tempos, The Crimson Idol é uma obra prima. É impressionante como este registro traz uma riqueza em melodias, detalhes e riffs, mostrando Blackie Lawless como um compositor de mão cheia trazendo algo completamente diferente e original em relação ao que se tinha no início dos anos 90. Com uma introdução apoteótica “The Titanic Overture“, o álbum cresce e mostra a sua grandiosidade perante as faixas “Arena Of Pleasure” e “Chainsaw Charlie” esta por sinal sempre executada em seus shows. Os destaques estão também nas excelentes baladas “The Idol” e “Hold On To My Heart“, esta última, uma das baladas mais bonitas que já ouvi. Como fã, considero este o melhor álbum da banda. Como Lawless mesmo diz: “este álbum deve ser apreciado com muita calma e cuidado, pois não criei um fast food para os ouvidos”. Still Not Black Enough [1995] O que estava previsto ser lançado como um álbum solo de Blackie Lawless transformou-se no sexto album do W.A.S.P.. Na verdade, não é novidade para ninguém que desde The Crimson Idol o W.A.S.P. nada mais é que a banda solo de Lawless, onde ele manda e desmanda como quer. Para esse registro, os músicos são praticamente os mesmos do registro anterior, Bob Kulick (guitarra), Frankie Banali (bateria) e Lawless na guitarra, baixo, teclados e vocais. Como o W.A.S.P. vinha em uma sucessão de excelentes discos, este ficou aquém das expectativas, mais fraco e sem o brilhantismo dos anteriores. Não se trata de um disco de todo ruim, mas perdeu-se um pouco do peso e da melodia que a banda vinha desenvolvendo através do tempo. Talvez parte da culpa seja da produção, que está polida demais, deixando o som da banda bem artificial. As faixas “Black Forever” e “Goodbye America” trazem um pouco do velho W.A.S.P., e “Rock ‘n’ Roll To Death“, com toda sua energia, faz valer o álbum. O destaque fica por conta da voz de Lawless que está fabulosa, ouça a faixa “I Can’t” e descubra por si só. Um álbum razoável, onde as composições são medianas, mas a voz de Lawless está extraordinariamente inigualável. Kill Fuck Die [1997] Com a volta de Chris Holmes e os novos integrantes Michael Duda (baixo) e Stet Howland (bateria), o W.A.S.P. tentou voltar às raízes, mas com um novo direcionamento musical, mais cru e pesado, com a adição de elementos do industrial. Muitos fãs torceram o nariz, considerando este o pior álbum da banda. Discordo totalmente. O registro não traz tantas mudanças significativas que justifiquem tal desapontamento dos birrentos fãs. Kill Fuck Die traz boas composições e uma aura de experimentalismo, onde o som industrial se fundiu em perfeita sintonia com as melodias compostas por Lawless. O objetivo das diferentes influências era somente dar ênfase ao clima obscuro e agressivo das faixas, sem descaracterizar a reputação da banda. Os ótimos momentos do álbum são as faixas “Take The Addiction“, “Kill Your Pretty Face“, “Little Death” e a perfeita e angustiante “My Tortured Eyes” onde a proeminente voz de Lawless sugere um espetáculo a parte. Enfim, este álbum merece mais respeito pelos fãs e uma audição mais delicada, pois trata-se de um trabalho coeso, maduro e acima de tudo criativo. Helldorado [1999] Com o formação estabilizada, Lawless retornou às raízes com um álbum forte e voltado totalmente ao hard rock, sem firulas e sem toda aquela complexidade adquirida nos últimos registros. A sonoridade obtida aqui é uma volta ao estilo inicial, com um estilão a la “Blind In Texas”, de The Last Comand (1985). A faixa-título “Helldorado“ já dá o tom do álbum, energética e descompromissada, feito os clássicos do AC/DC da década de 70. “Don’t Cry (Just Suck)”, “Damnation Angels” e “Dirty Balls” trasbordam vigor roqueiro com uma levada bem criativa e despojada, muito diferente do que as bandas vinham fazendo no final dos anos 90. Outra faixa que marca toda a energia contida na voz de Lawless é a veloz “Cocaine Cowboys”, dona de grandes refrões, seguidos de ótimos solos de Chris Holmes. Creio que uma das frases de Lawless, ilustra bem o direcionamento adotado pela banda neste álbum: “Sabe quando você está andando pela rua e vê uma antiga namorada e ela olha diretamente para você? É como se você pensasse assim… Ei, porque não te como mais? Vamos relembrar os velhos tempos?” Unholy Terror [2001] O W.A.S.P. iniciou o novo milênio com o pé direito, isto é, mais um tiro certeiro na sua inspirada discografia. O que chama a atenção logo de cara é a bonita capa, ficando muito mais bela na versão digibook. Calcado nas influências do sensacional The Headless Children (1989), Unholy Terror empolga do início ao fim. Com grandes riffs, “Let It Roar” inicia uma avalanche sonora e impressiona pela qualidade obtida até então pela formação vigente. Em seguida vem a poderosa e pegajosa “Hate To Love Me”, mas é o início melancólico de “Unholy Terror” e a sequência arrastada e emblemática de “Charisma” que fazem valer o álbum, trazendo, sobretudo, muito peso e criatividade. Destaque também para a bela balada “Evermore”. Na minha opinião, Unholy Terror é o último grande registro do W.A.S.P.. Dying For The World [2002] Após a turnê do Unholy Terror, Chris Holmes foi substituído por Darell Roberts. Devido aos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, Lawless decidiu lançar mais um trabalho repleto de letras carregadas e melancólicas, bem ao seu estilo. Mantendo a mesma linha dos últimos álbuns, Dying For The World traz uma sonoridade mais sombria e acrescenta um certo peso em suas músicas, que pode ser conferido nas boas faixas “Shadow Man” e “My Wicked Heart”, essa última, uma espécie de oração onde Mr. Lawless pede perdão a Deus pela raiva guardada em seu coração. Na sequência temos a contida “Black Bone Torso” e a rápida “Hell For Eternity”, esta que, por sinal, seria o modelo adotado pela banda para próximas e vindouras composições. O último destaque fica por conta da revoltada “Stone Cold Killers”, com guitarras bem sincronizadas e um solo pra lá de contagiante, encerrando de forma decente o bom andamento do petardo. The Neon God: Part I – The Rise [2004] Musicalmente e contextualmente falando, The Neon God: Part 1 - The Rise vem na mesma linha do clássico The Crimson Idol (1992). Aqui conhecemos a história de um órfão que teve uma infância terrível no orfanato onde viveu e obteve sucesso em sua vida ao se tornar um falso messias. Pois bem, os arranjos e o balanceamento do álbum são tecnicamente perfeitos, as faixas te levam pela história como se fosse uma trilha sonora de um filme épico, a interpretação de Lawless é incontestavelmente precisa e emocionante. O bom andamento do disco deve-se muito a entrada do excelente Darrell Roberts no lugar do insano Chris Holmes: podemos constatar que as guitarras estão mais precisas e sincronizadas. Com uma variedade musical impressionante, “Overture” inicia o disco de forma marcante. Na sequência, temos uma rápida passagem acústica por “Why Am I Here”, para depois cair na típica hard rock “Wishing Well”. Os destaques também estão em “Sister Sadie”, na épica “The Rise”, na emocionante e pesada “Asylum #9” e na bela balada “What I’ll Never Find”. O disco é muito bem feito e Lawless não só merece um lugar ao sol entre os melhores compositores da história da musica pesada, como também merece um prêmio Grammy pela interpretação vocal. The Neon God: Part II – The Demise [2004] Com os fãs ansiosos pela segunda parte da história contada e inventada por Mr. Lawless, chegou às lojas The Neon God: Part II - The Demise, vindo para completar a ópera rock do personagem fictício Jesse Slane, o falso messias. A história leva a uma reflexão interessante, ou seja, faz uma dura crítica ao comportamento repugnante da humanidade; claro, com uma boa dose de sarcasmo. Fica aqui um conselho, vale a pena ler o encarte e conhecer um pouco mais desta epopéia. O lado musical não difere muito da primeira parte, ou seja, traz todo aquele metal fundido às melodias características da banda, mas bem mais direto. O álbum abre com a inspirada “Never Say Die”, com um riff e um refrão atípico e bem elaborado pela dupla Lawless e Roberts. “Ressurrector” faz lembrar um pouco a fase Still Not Black Enough (1995). Na sequência, a arrastada e cadenciada “Demise” eleva o nível do petardo. Os outros destaques estão em “Come Back To Black”, “All My Life” e na surpreendente e intensa “The Last Redemption”. Mais longa canção da carreira do W.A.S.P., com treze minutos, ela possui uma variedade impressionante e encerra as duas partes desta ópera rock com pompa. Um disco merecedor de elogios. Dominator [2007] Três anos após a sequência hollywoodiana e conceitual da dupla The Neon God, Lawless colocou no mercado um novo trabalho. Infelizmente, o disco não trouxe novidades em relação ao estilo musical da banda, que seguiu com aquele som mediano sem o brilhantismo de outrora. Um bom trabalho que não acrescenta mas também não mancha a reputação da banda. Temos bons momentos, como as aceleradas e virulentas “Long, Long Way To Go” e “The Burning Man”. Como destaque absoluto do álbum, posso citar a excelente “Heaven’s Hung In Black” que traz duas versões, sendo uma elétrica e outra acústica, uma verdadeira obra prima, que, ao longo de seus sete minutos, conta de forma melancólica a história de um soldado morto na guerra do Iraque que, quando tenta entrar no céu, acaba se deparando com um grande anjo que lhe diz que o terreno está lotado… justamente por causa das vítimas de seu próprio exército em ação no Oriente Médio. Ele não tem asas e os portões do Paraíso estão selados para ele. Babylon [2009] Após o morno Dominator (2007), o W.A.S.P. retornou à velha forma com o insano e despojado Babylon. Um trabalho que retomou a áurea dos primeiros registros da banda, mas com um destaque negativo, o fato de contar com apenas nove composições, sendo dois covers. Apesar disso causar um certo incômodo nos fãs carentes por novidades, pode-se dizer que não há decepção, pois o disco consegue soar bem. Não há grandes hits, mas as faixas “Crazy”, “Babylon’s Burning” e “Seas Of Fire” mantêm o bom nível e a integridade da banda, sendo totalmente possível a inclusão delas em qualquer disco dos anos 80. Outros destaques ficam por conta da bela e surpreendente balada “Into The Fire” e os covers “Promised Land”, de Chuck Berry, e “Burn” do Deep Purple. Essa última, por sinal, simplesmente fantástica, um dos melhores covers do Deep Purple que já ouvi. Um disco excelente e que deve passar tranquilamente pela árdua prova de fogo… o tempo! Finalizando, podemos dizer que Lawless e cia. chega bem em seus quase 30 anos de carreira, com uma discografia irrepreensível, e além de tudo buscando criatividade e se renovando ano após ano. Vida longa ao grande W.A.S.P.!